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O Soldadinho de Chumbo

O Soldadinho de Chumbo

Era uma vez vinte e cinco soldadinhos de chumbo, todos irmãos, moldados a partir da mesma colher velha. Todos eram idênticos, exceto um, que tinha apenas uma perna porque, quando foi feito, faltou chumbo. No entanto, ele permanecia firme sobre sua única perna, sem jamais vacilar.

Certo dia, os soldadinhos foram entregues a um menino como presente de aniversário. O garoto arrumou os soldados em fila sobre a mesa, e, ao lado deles, havia muitas outras figuras, incluindo um lindo castelo de papelão. A mais encantadora de todas as figuras era uma graciosa bailarina de papel. Ela se erguia sobre um pedestal e, assim como o soldadinho, mantinha-se equilibrada sobre uma única perna. O soldadinho de chumbo logo se apaixonou por ela.

É perfeita para mim, — pensou ele. — Ela também tem uma só perna, como eu.

À noite, quando todos dormiam, os brinquedos começaram a ganhar vida. Os soldadinhos permaneceram em suas posições, mas o soldadinho de chumbo, fascinado pela bailarina, não desviava o olhar dela. De repente, uma caixa de brinquedos próxima se abriu e de dentro dela saiu um diabinho.

O que está olhando? — perguntou o diabinho, furioso. Mas o soldadinho de chumbo não respondeu.

Muito bem, então! Amanhã você verá! — gritou o diabinho.

Na manhã seguinte, quando o menino foi brincar, colocou o soldadinho de chumbo perto da janela. De repente, uma rajada de vento forte soprou e o soldadinho foi lançado para fora da janela. Ele caiu de cabeça para baixo na rua, entre as pedras do calçamento.

Lá vai ele! — gritaram dois garotos que passavam. — Vamos pegar o soldadinho de chumbo!

Os garotos pegaram o soldadinho e colocaram-no em um barquinho de papel, que foi lançado no ralo da calçada. O barquinho navegou pela água corrente, levando o soldadinho cada vez mais longe. A correnteza tornou-se mais rápida e o soldadinho de chumbo manteve-se firme, mesmo quando o barquinho foi tragado por um esgoto escuro.

De repente, um grande rato apareceu.

Você tem um passaporte? — perguntou o rato, mostrando seus dentes afiados. — Pague o pedágio ou não poderá passar!

O soldadinho de chumbo permaneceu em silêncio, sem se mexer. O rato correu atrás do barquinho, mas a correnteza estava muito forte e logo o soldadinho foi levado para dentro de um canal ainda maior. Lá, o barquinho começou a encher-se de água e, lentamente, afundou. O soldadinho de chumbo afundou com ele, sem dizer uma palavra, sempre firme e corajoso.

Quando ele chegou ao fundo do canal, um enorme peixe o engoliu de uma só vez. Dentro do estômago do peixe, estava escuro, mas o soldadinho de chumbo permaneceu calmo. O peixe nadou por algum tempo, até que foi capturado por um pescador.

O peixe foi levado ao mercado, vendido e, por coincidência, acabou na cozinha da casa do mesmo menino que havia recebido o soldadinho como presente. A cozinheira abriu o peixe e, para surpresa de todos, lá estava o soldadinho de chumbo! O menino ficou muito feliz ao reencontrar seu soldado favorito e o colocou novamente sobre a mesa, ao lado da bailarina.

O soldadinho olhou para a bailarina, e ela também olhou para ele. Nada foi dito, mas havia um entendimento mútuo entre os dois. De repente, um dos meninos, sem motivo aparente, pegou o soldadinho e o jogou na lareira. O soldadinho de chumbo sentiu o calor intenso das chamas, mas manteve-se firme, sem desviar o olhar da bailarina.

Enquanto o soldadinho de chumbo derretia, uma corrente de ar tomou a bailarina, que foi levada até o fogo. Ela queimou rapidamente, reduzida a cinzas. Na manhã seguinte, quando a lareira foi limpa, tudo o que restava do soldadinho era um pequeno pedaço de chumbo em forma de coração.